sexta-feira, 7 de outubro de 2016

CRIANÇAS "BOAZINHAS" VERSUS CRIANÇAS "MAZINHAS" …




"Ah…O meu filho é tão bonzinho…Não chateia nada…Faz tudo o que lhe peço!"

Todos os pais querem o filho “bonzinho” e, desgraçados daqueles que têm os mal comportados! É verdade…A nossa sociedade “implementou” os “filhos bonzinhos” e os “filhos mauzinhos”.

Os “bonzinhos” são os bem mandados, que fazem tudo o que os pais pedem.

Os “mauzinhos” são os desobedientes, que testam e quebram os limites a toda a hora, deixando os pais envergonhados porque educaram um filho “mauzinho” …

Sim, no imaginário social, todas as crianças que não fazem tudo o que os adultos pedem, sem contestar, são desobedientes, mal educadas e “mazinhas”.

Vou ter que ser “mazinha” e dizer que não concordo em absoluto com esse imaginário social…Atrevo-me a dizer que o acho uma seca!

Uma criança sem vontade própria, sem ideias, sem iniciativa, sem capacidade de argumentação é uma criança que não explora o meio. É uma criança que não se atreve a ir mais além e descobrir coisas novas. E uma criança que não tem “EU” e, em vez disso, tem um puzzle gigantesco dentro de si, com peças que não são suas, desorganizando-se porque, por mais que tente, elas não encaixam.

Uma criança pode e deve ter iniciativa e, pode e deve contestar algumas regras que não lhe fazem sentido. Só a partir daqui lhe pode ser garantida a possibilidade de perceber essas regras – Questionando-as!

Agora, não nos podemos esquecer que as crianças nascem com determinadas características de personalidade que condicionam o modo como fazem isso.

Umas crianças são mais reservadas e, por isso, mais propensas a aceitarem regras impostas e, outras, são mais extrovertidas e mais propensas a desafiá-las.

Entretanto, não nos podemos também esquecer que, apesar de não poder ser mudada, a personalidade pode ser moldada e, essa moldagem pode e deve ser feita pelos pais, no sentido de proteger e fazê-la sentir-se bem com ela mesma.

Assim, estamos perante uma situação onde temos de concluir que, o facto da criança ser “boazinha” ou “mazinha” não dependente nem só da criança, nem só dos pais…

Se temos uma criança mais inibida que tem pais muito castradores e rígidos, pois o resultado mais provável é que a criança fique ainda mais introvertida e, anule completamente a construção de si mesma, tomando uma postura semelhante à de um robot, ou seja, uma postura completamente comandada pelos pais
Se, pelo contrário, lhe calha pais permissivos, o mais provável é que se torne dependente destes, pois, dada a sua personalidade mais contida, serão os únicos com quem consegue estar sem ser completamente controlada!

Já se temos uma criança que é extrovertida e juntamos a ela uns pais extremamente permissivos, corremos o risco de nos depararmos com uma criança ditadora que faz o que quer, regendo-se pela permissa “Eu quero, eu posso, eu mando”, com todas as consequências negativas a nível pessoal, social e acadêmico que tal atitude pode acarretar.
Se juntamos, pelo contrário pais demasiado rígidos, corremos o risco de nos deparamos com uma criança birrenta, que não faz mais nada que não seja gritar, espernear e opor-se, fazendo da sua vida e da vida dos pais uma batalha constante.

Resta-nos o meio termo, que é a solução mais saudável para qualquer criança!! Deixar de dar miminhos? NUNCA, mas, sempre com regras e limites á mistura!

O diálogo e a paciência são fundamentais na educação de qualquer criança, de forma a que ela perceba que os pais estão disponíveis para ela e, dispostos a ajudá-la a perceber como funciona o mundo à volta delas, sempre respeitando a pessoa que ela é, ajudando-a, desta forma, a construir-se e a apreciar-se enquanto pessoa.

É que não é suposto, é as crianças fazerem tudo o que os pais querem ou mandam…O que é suposto é a criança dar a sua opinião, mostrar o que pensa, confrontar, por vezes, de forma a dar aos pais espaço para desempenharem a sua “profissão” que é ser educadores, é EDUCAR!

Fátima Poucochinho
Psicologa Infanto Juvenil
Clinica ASAS, Portimão

quinta-feira, 6 de outubro de 2016

FAZ O QUE EU DIGO MAS NÃO FAÇAS O QUE EU FAÇO...



"...os pais estão proibidos de negociar, de justificar ou de explicar as regras que entendem que uma criança deve ter (e que, supostamente, têm tudo a ver com os seus bons exemplos).

Porquê?


Porque as crianças lhes tiram, desde sempre, as medidas até à alma. E, portanto, porque elas sabem muito bem quando é que os pais lhes estão a exigir comportamentos em tudo adequados aos seus bons exemplos ou, pelo contrário, quando é que eles se estão a esticar, exigindo um conjunto de atitudes que não têm nada a ver com aquilo que fazem.

Por exemplo: faz sentido que o pai exija que uma criança não se levante da mesa, durante o jantar, enquanto ele, por rotina, não deixa de o fazer, para atender o telefone? Isto é: se os pais exigirem, em função dos exemplos que dão, fazem muito bem.

Não se trata, é claro, de exigirem com maus modos e de forma carrancuda o que quer que seja. Mas, de forma firme e serena. Tudo menos fazerem-no a tremelicar da voz ou a pedir, muito devagarinho, que uma criança faça aquilo que, sensatamente, tem de fazer. E, é claro, sem se explicar, negociar ou justificar porque - ao fazerem-no como quem tem a obrigação de encher o discurso de alíneas e de demonstrações, a propósito de tudo e de mais alguma coisa (o que sucede quando os pais tentam fugir às más práticas - demasiado autoritárias - dos seus próprios pais) - o melhor que conseguem é pôr ruído nos bons exemplos que vão tendo e exercer a parentalidade tão a medo que, à cautela, uma criança tem nas birras um excelente controle de qualidade para a autoridade dos pais".

Eduardo Sá

O MEU FILHO FOI DIAGNOSTICADO COM AUTISMO…!


Inicialmente acredito que seja uma espécie de bomba que cai em cima de qualquer pai e mãe mas, quando a bomba desvanece e os pais começam a reconstruir o que foi destruído, o mais certo é acabarem por descobrir que, afinal, têm a seu lado uma criança maravilhosa que, simplesmente, vive mais tempo no mundo dela do que no nosso…

Deixo-vos com um pequeno excerto de um texto escrito por um adolescente que, em criança foi diagnosticado com autismo:

“Olá mundo

Quero dizer-vos que, ao contrário do que possam pensar, eu não sou uma versão avariada de vocês. Como tal, não preciso de ser “arranjado”, nem preciso que tenham pena de mim e dos meus pais.

Digo-vos mais…O mundo precisa de pessoas como eu. O mundo precisa perceber que ser diferente não é ser “anormal”. Porquê que as outras pessoas são as “normais” e eu o “anormal”? É que eu sinto-me perfeitamente normal…Às vezes sinto que até sou mais equilibrado do que a maior parte das pessoas…

Não se preocupem com os meus gestos, com a forma como falo, com a forma como socializo…Sou simplesmente EU…E eu gosto de ser EU!

Não é porque não encaixo no molde que o mundo fez para a normalidade que sou estranho ou esquisito…

Sou simplesmente EU… E eu gosto de ser EU!

Sim, eu tenho alguns tiques. Sim, eu ando sempre com um objeto que me transmite segurança e conforto. Sim, eu às vezes não sei comunicar da melhor maneira mas, tudo isto, é uma parte do que eu sou. E eu gosto de ser EU!

Sim, às vezes descontrolo-me e fico fora de mim mas é a minha forma de reagir a um mundo que às vezes me parece estranho e esquisito…E assustador…Às vezes o mundo parece-me muito assustador! Tem muitos sons, muitos cheiros, muitas coisas a tocarem em mim e, muitas pessoas a quererem tocar-me…

Eu não gosto muito que me toquem…É assim tão estranho? Isso não me torna menos boa pessoa e menos amigo…Sou simplesmente EU…E eu gosto de ser EU!

Sim, também não gosto quando as coisas que eu já sei como funcionam, de repente mudam. Fico meio perdido e, sentirmo-nos perdidos não é bom…É assustador!

Para mim é bem mais fácil ouvir a mesma música vezes e vezes sem conta, ver o mesmo filme vezes e vezes sem conta, repetir todos os dias a mesma rotina, as mesmas etapas, os mesmos passos. Sabem, às vezes não é mau de todo ter alguma coerência e consistência no que acontece no nosso dia a dia.

Para vocês não é assim? Não faz mal…Eu respeito isso. Cada um tem a sua maneira de ser, de estar. Devemos SEMPRE ser nós próprios e eu, eu gosto de ser EU!”

Tradução livre por Fátima Poucochinho