sábado, 4 de fevereiro de 2017

SÍNDROME DO PETER PAN... JÁ OUVIU FALAR?



Não sei se existe este síndrome como nome técnico...Eu dou-lhe este nome porque, para mim, o Peter Pan é o símbolo do menino que queria eternamente ser menino, que não queria nunca crescer. Na realidade, cada vez me deparo com mais adolescentes com exatamente a mesma sintomatologia....O não querer crescer, ou melhor, o não querer assumir o que crescer implica!

O “síndrome de Peter Pan”, como gosto de chamar-lhe, aplica-se aos jovens que continuam a comportar-se como crianças e que não são capazes de tomar a responsabilidade do crescer, as responsabilidades de ter de tomar de decisões, de fazer escolhas e de acarretar com as consequências das mesmas...

Perceber que os nossos atos tem consequências é cada vez mais difícil para os nossos jovens e é-o porque nós pais, cada vez temos também mais dificuldade em impor regras e limites consistentes, em responsabiliza-los pelos seus atos...

Atualmente são poucos os jovens que tem a noção de que antes de fazerem algo, têm de ponderar bem sobre a sua escolha pois ela vai ter consequências...”Faço e depois penso” , é a lógica da maioria dos nossos jovens, acabando por entrar numa “onda” de negarem-se a crescer, apresentando uma enorme imaturidade emocional.

Esta imaturidade está diretamente relacionada, tal como já referi atrás, com a falta de regras e limites consistentes e coerentes , pois, é através deles que as crianças percebem o meio como securuizante...Um contexto familiar onde os NIM´S (não que depois se transforma em sim) , são uma constante, geram no jovem insegurança e medo de não serem queridos e aceites pelos demais.

No entanto, é preciso estarmos muito atentos pois apesar desta insegurança, estes jovens acabam, na maior parte das vezes, por colocar uma “armadura protetora e defensiva “ que usualmente, lhes dá um ar de jovens seguros de si mesmos, tendo inclusivamente, por vezes, comportamentos arrogantes... É a sua mascara para ocultar as suas verdadeiras inseguranças e indecisões. Estes jovens escondem-se por trás de desculpas ou mentiras que os fazem dissimular a sua capacidade para crescer; por norma falam de fantásticos projetos, negócios incríveis que vão ter, etc.. Estas fantasias acabam por permitem-lhes iludir as suas responsabilidades e poder culpabilizar os outros pelas coisas negativas que lhes ocorrem.

São jovens cuja atitude predominante centra-se em receber, pedir e criticar, não se preocupando muito com o fazer, com o pôr em prática as suas coisas.. Isso faz com que vivam centrados em si mesmos e nos seus problemas sem se preocuparem pelo que acontece às pessoas no seu redor;

São jovens que consideram o compromisso como um obstáculo à sua liberdade;

São jovens que não adotam a responsabilidade dos seus atos, porque sentem que os outros devem fazer por eles;

São jovens que se sentem permanentemente insatisfeitos com o que têm, mas não tomam iniciativas para tentar solucionar a sua situação. De forma simples... São jovens que querem tudo mas não fazem nenhum esforço para o conseguir;

Geralmente, estas dificuldades têm origem numa fase de crescimento mais precoce, quando não conseguem sentir o seu meio familiar como estruturante e securizante, desde cedo, acabando por se irem sentindo, à medida que crescem, desprotegidos e angustiados.

Reconhece estes sintomas? Já os viu em alguma lado, nomeadamente no seu filho adolescente? Então está na hora de tomar uma atitude...Nunca é tarde demais para tomar atitudes...Deixo-vos algumas dicas:

- A melhor via para ajudar estes jovens a crescer é permitir-lhes que enfrentem a realidade e assumam as consequências dos seus comportamentos e decisões. Não os defendem se eles tiveram um comportamento errado...mesmo que o castigo dado na escola por exemplo, não seja justo...Justo ou não, foi a consequência da sua escolha que o provocou e é isso que é importante o jovem perceber – os nossos comportamentos têm consequências...umas vezes boas, outras vezes más...depende da escolha que, depois de ponderado eles fazem;

- Podemos ajuda-los a tomar escolhas ponderadas não pensando por eles mas antes ajudando-os a pensar. O dialogo continua a ser a melhor arma. Converse com o seu filho, ajude-o a perceber que na vida podemos sempre escolher pelo menos dois caminhos e que, para cada um desses caminhos existem consequências. Assim, antes de escolher um ou outro caminho é importante pensar nos prós e contras de cada um...Depois sim, tomar a decisão ponderada e fazer a escolha ciente das consequências da mesma;

- Quando o seu filho vem com muitas queixas e lamentos, nunca deixe de estar disponível para ele mas, não entre na onda do “coitadismo”...Motive-o a que tome iniciativas proactivas, para assim mudar a sua situação.

É claro que temos um pequeno Peter Pan dentro de nós ( eu sei que tenho), e pretender erradica-lo totalmente seria algo bastante difícil e até pouco saudável... É importante mantermos sempre uma "pequena" criança interior dentro de nós...O que não podemos é permitir que essa "pequena criança", esse lado mais infantil, nos impeça de crescer, assumir a responsabilidade pelas nossas decisões e continuar o caminho da maturidade.

Fátima Poucochinho
Psicóloga Infantil
Clínica ASAS, Portimão